segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Pesquisa Mestrado - Rodrigo Santana

Título: Perdão Interpessoal e Esquemas de Personalidade

Orientadora: Renata Ferrarez Fernandes Lopes

Por volta da década de 1930 já era possível encontrar trabalhos teóricos e empíricos, que embora modestos para a época, lançavam luzes sobre aspectos do perdão. No entanto, é a partir da década de 1980 que temos um crescente interesse a respeito da psicologia do perdão, que passa a ser considerada de maneira mais intensa e séria, havendo inclusive pesquisas empíricas mais rigorosas. Em sua maioria, os estudos investigavam as possíveis ligações entre perdão, saúde mental, bem como eram explorados os aspectos sócio-psicológicos envolvidos. Especificamente, tais estudos indicavam que a disposição para perdoar um ofensor poderia ser explicada por variáveis de natureza sócio-cognitiva, tais como a responsabilidade percebida do ofensor, a intencionalidade, a motivação e a seriedade da ofensa. Desde então, houve um progresso considerável em sua definição e formas de mensuração, sendo possível encontrar atualmente variados tipos de escalas para avaliação desse construto, que vem sendo explorado em seus substratos desenvolvimental, social e de personalidade. Além disso, estudiosos têm progredindo na avaliação de seu valor para o bem-estar individual e social, e também no desenvolvimento de intervenções para promoção do perdão, como é o caso do Projeto para o Perdão da Universidade de Stanford, desenvolvido na Irlanda do Norte junto a pessoas que perderam familiares em função de atos de violência. Este projeto é de responsabilidade de um psicólogo chamado Fred Luskin. Além desse psicólogo, outros nomes que são bastante mencionados na literatura estrangeira são Michael McCullough, Everett Worthington e Robert Enright, e aqui no Brasil, o professor Julio Rique da Universidade Federal da Paraíba.
Em se tratando de aspectos conceituais, embora haja ainda divergências, a literatura mostra que as definições apresentadas pelos estudiosos giram em torno da proposta por Robert Enright e colaboradores (2007) – pioneiro nos estudos sobre perdão –, na qual perdão interpessoal é entendido como: “uma atitude moral na qual uma pessoa considera abrir mão do direito ao ressentimento, julgamentos e comportamentos negativos para com a outra pessoa que a ofendeu, e, ao mesmo tempo, nutrir sentimentos positivos em relação ao ofensor”. Em consonância a essa proposta, Michael McCullough e seus colaboradores (2000), outros estudiosos do tema, propõe perdão como uma mudança intraindividual e pró-social em relação a um transgressor, que estaria situado num contexto interpessoal específico.
Estudos mostram que muito do que as pessoas sofrem como injustiça é parte da rotina dos relacionamentos em família, na escola e no trabalho, ocasionado, muitas vezes, por aqueles que são mais próximos. Deste modo, é provável que muitos já tenham sido alvos de ofensas em graus variados. É importante ressaltar que há ofensas que parecem graves demais se comparadas às que perpassam o cotidiano da maioria das pessoas, o que não impede necessariamente o ato de perdoar. Mas por que razão alguém perdoaria aquele que lhe causou sofrimento? É de fato genuíno o ato de perdoar em situações que envolvem conseqüências negativas mais extremas, assim como em outras menos graves? Partindo-se do pressuposto de que há pessoas que certamente perdoam, o que estas apresentam em comum ou de diferente? É uma motivação pessoal, ou uma atitude influenciada por agentes externos? Que aspectos levam uma pessoa a estar mais disposta a perdoar do que outras? Que crenças embasam a decisão de perdoar o transgressor? As pessoas perdoam porque pensam que se não o fizerem serão pessoas más?
Dentre estas questões, a que se destaca é aquela referente a crenças que embasam o ato de perdoar. A razão disso é que parece ser comum associar quase que automaticamente o tema ao campo religioso, esquecendo-se de considerar crenças que não pertencem a esse domínio. A máxima atribuída a Alexander Pope, “Errar é humano; perdoar, divino”, exprime de maneira simples essa idéia. “As três grandes tradições monoteístas presentes no mundo partilham a idéia de que as pessoas, por serem perdoadas por Deus, deveriam como resultado, perdoar seus transgressores” (McCullough & Witvliet, 2002, p. 447).
A partir disso, outros questionamentos surgem. Partindo-se do pressuposto de que todas as pessoas que praticam tais tradições partilham também a crença do perdão como algo divino, o que dizer sobre as demais pessoas? Que outras crenças elas têm a respeito de perdoar ou não perdoar quem lhes causou algum dano? Perdoam porque, como propõe Fred Luskin (2007) perdoar pode significar a libertação de sentimentos que acreditam influenciar negativamente suas vidas? Além disso, perdoar pode ser visto como uma atitude de flexibilidade, o que garantiria maior capacidade para lidar com os estressores cotidianos? Ou ainda, perdão pode ser visto como algo que mantém ou promove saúde?
Como é possível notar, questões não faltam. Assim, o objetivo deste trabalho é entender como as crenças, mais especificamente, os esquemas iniciais desadaptativos propostos por Jeffrey Young, podem estar relacionados com a disposição das pessoas para perdoar afrontas.


Palavras chaves: Perdão Interpessoal, Esquemas, Personalidade.

Parte 1


Parte 2


Para saber mais:

Enright, R. D., Rique, J., Camino, C. P. S., & Queiroz, P. (2007) Perdão Interpessoal em Contextos de Injustiça no Brasil e nos EUA. PSICO, 38(2), 182-189.

Luskin, F. (2007). O Poder do Perdão. São Paulo: Francis.

McCullough, M. E. & Witvliet, C. V. (2002). Psychology of Forgiveness. In C. R. Snyder & S. J. Lopez (eds.) (2002), Handbook of positive psychology (pp. 446-458). London: Oxford University Press.

McCullough, M. E., Pargament, K. I., & Thoresen, C. E. (2000). Forgiveness: Theory, research, and Practice. New York: Guilford Press.

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